Monday, February 18, 2008


"Estavam a bater numa pessoa que não fez mal a ninguém"


ALFREDO TEIXEIRA

Jovem julgado por crimes de ofensa à integridade física e omissão de auxílio
André assistiu às agressões de que foi alvo por parte dos seus colegas da Oficina de S. José a transexual Gisberta, que acabou por morrer ao ser lançada para um poço de um edifício inacabado do Campo 24 de Agosto, no Porto, onde vivia como sem-abrigo. O rapaz, agora com 16 anos, diz que foi ao local uma única vez. A barraca de Gi, como era conhecida, estava destruída e a transexual deitada no chão."Eu fiquei mais para trás enquanto eles lhe batiam com paus nas pernas, pedindo para ela se levantar. Ela dizia que não podia porque estava demasiado fraca", recordou o jovem ao colectivo do Tribunal de S. João Novo, que está a julgar um dos 14 rapazes envolvidos nas agressões, o único com responsabilidade criminal por ter à altura dos factos (Fevereiro de 2006) 16 anos.Como a vítima não se levantou, saíram do esqueleto do prédio mas, entretanto, o grupo resolveu voltar para dar porrada na Gisberta. Um dos rapazes era Vítor Santos que, como afirmava um dos alunos da Oficina, José Alexandre, "não gostava de travestis"."Foi a única vez que lá fui. Estavam a bater numa pessoa que não fez mal a ninguém", afirmou André. Dias depois, Gisberta morre e três rapazes internos, mas a estudar na Escola Secundária Pires de Lima, contam o caso a uma professora. Ana Maria Silva ainda hoje tem dificuldades em ultrapassar esse "momento doloroso"."Fiquei atordoada, eram os meus meninos. Contaram-me que tinham visto a Gisberta morta, despida da cinta para baixo e com um pau enfiado no ânus. Foram lá para se livrarem do cadáver", recorda a professora. Vítor Santos (os restantes foram julgados no Tribunal de Menores) responde por três crimes de ofensa à integridade física qualificada e por um de crime de omissão de auxílio.Os restantes rapazes, por serem menores, tiveram penas de internamento em casas de correcção e foram espalhados por vários estabelecimentos do País. O julgamento prossegue no próximo dia 28.

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